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GAAA – Grupo de Apoio à Adopção de Angola
2.º Aniversário 30 de Junho de 2025
“Muitas coisas de que precisamos podem esperar. A criança não. Agora é tempo em que os seus ossos se formam, o seu cérebro se desenvolve. Para ela não podemos dizer amanhã, o seu nome é hoje.”
— Gabriela Mistral
É com grande regozijo que assinalamos, no próximo dia 30 de Junho, o segundo ano de existência do GAAA – Grupo de Apoio à Adopção de Angola, uma iniciativa do Núcleo do IBDFAM Angola.
Ao longo deste segundo ano de actividade, o grupo consolidou-se como um espaço de partilha, formação e escuta activa, reunindo-se mensalmente, em formato virtual, com a participação de profissionais voluntários (advogados, psicólogos), pessoas em processo de habilitação para adopção, bem como famílias já constituídas por via da adopção, que generosamente partilham as suas experiências e trajectos.
O GAAA tem vindo a afirmar-se como um espaço seguro de reflexão e apoio mútuo, onde se abordam questões estruturantes do universo adoptivo, como os impactos do trauma, as dificuldades de vinculação, os desafios da adaptação e as estratégias de integração familiar. O grupo procura, sobretudo, desconstruir idealizações e apoiar os habilitandos na construção de um projecto de parentalidade informado, ético e duradouro.
Com satisfação, registamos que, neste último ano, sete crianças foram adoptadas, encontrando finalmente o calor e a estabilidade de um lar. São sete percursos de vida transformados, marcados pela restituição do afecto, da dignidade e do direito fundamental a pertencer a uma família. Ainda que permaneça modesto, face ao elevado número de crianças institucionalizadas em Angola, cada adopção representa uma vitória sobre a exclusão e a indiferença.
Durante este período, tivemos a honra de acolher convidados de países como o Brasil, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, Suíça e Noruega. A participação de alguns destes países lusófonos permitiu partilhar a experiência angolana e reforçar a proposta de estender os grupos de apoio à adopção a todos os núcleos do IBDFAM além-mar que ainda não os possuem. Fruto desta articulação, foi lançado, a 23 de Maio do corrente ano, o GAASTP – Grupo de Apoio à Adopção de São Tomé e Príncipe, iniciativa inspirada e promovida pelo GAAA. O objectivo, naturalmente, não é ficar por aqui, mas expandir este modelo a todos os núcleos lusófonos e, quiçá, a todos os países africanos que ainda não disponham de estruturas de apoio à adopção.
Em Outubro de 2023, o GAAA realizou visitas a várias instituições de acolhimento em Angola, tendo tido contacto directo com dezenas de crianças e adolescentes institucionalizados. O número elevado de menores privados de convívio familiar, e, em particular, a preocupação manifestada por muitos adolescentes com o seu futuro e com o acesso à educação, deixou-nos profundamente interpeladas. A proximidade da maioridade legal, para aqueles que permanecem sem solução familiar, levanta questões urgentes sobre a sua autonomia, protecção e inserção social.
Neste quadro, impõe-se sublinhar que Angola carece ainda de regulamentação específica sobre a adopção, tanto no plano nacional como internacional. Um ano após a ratificação da Convenção de Haia sobre a Protecção das Crianças e Cooperação em Matéria de Adopção Internacional, torna-se urgente a criação do Órgão Central, previsto pela própria Convenção, cuja missão será assegurar a legalidade, transparência e segurança dos processos adoptivos.
Paralelamente, é imprescindível combater o estigma que ainda subsiste em torno da adopção em Angola. A adopção não é, nem deve ser encarada como, um acto de caridade ou de compaixão. É, antes, uma expressão legítima do exercício da parentalidade, fundada no afecto, na responsabilidade e na reciprocidade. O seu verdadeiro objectivo é garantir à criança o direito de crescer no seio de uma família estável, amorosa e permanentemente comprometida com o seu bem-estar.
Há cerca de um ano e dois meses, o Grupo de Apoio à Adopção de Angola – GAAA, com o valioso apoio da Dra. Silvana do Monte Moreira, membro fundadora do GAAA, conseguiu reunir uma equipa médica disposta a reconstruir a cirurgia já realizada em Angola ao lábio leporino de uma menina, gémea, adoptada por requerentes do nosso grupo.
A equipa médica ofereceu, de forma solidária, a cirurgia plástica e a internação hospitalar da menina, no Estado do Rio de Janeiro – Brasil.
Contactámos o Ministério dos Transportes, apresentando a situação e solicitando apoio da TAAG para a emissão dos bilhetes. Para nossa grande surpresa, o Excelentíssimo Senhor Ministro dos Transportes, Dr. Ricardo Viegas de Abreu, despachou o documento no próprio dia, remetendo-o à TAAG, que prontamente autorizou a emissão de três bilhetes de passagem, inteiramente suportados pela companhia aérea. Foi uma alegria tão grande que chorámos de emoção!
Seguiu-se, contudo, a batalha pelo visto, que, infelizmente, não foi autorizado de imediato. Mas, como diz a Palavra em Habacuque 2:3 — “porque certamente virá, não tardará” — não desistimos. Cerca de seis meses depois, voltámos a requerer o visto e, finalmente, este foi concedido. O objectivo sempre foi um: devolver à Raquel o seu sorriso bonito.
Hoje celebramos este feito do GAAA!
A menina que será operada, a mana e a mamã estão de malas prontas para o Brasil.
O embarque será no dia 25 de Junho, com consulta pré-cirúrgica marcada para o dia 27 e cirurgia reconstrutiva agendada para o dia 30.
Queremos expressar a nossa mais sincera e profunda gratidão:
• Ao IBDFAM Nacional;
• À generosa equipa médica:
• Dr. Fernando Schwinden, médico coordenador deste maravilhoso projecto;
• Dr. Gabriel Mufarrej, neurocirurgião;
• Dra. Clarice Abreu, especialista em cirurgia plástica e cirurgia crânio-maxilo-facial;
• Ao Dr. Rogério, à Dra. Leonor Costa e à Dra. Helena Costa;
• E, por último mas não menos importante, à nossa querida Dra. Silvana do Monte Moreira, fundadora do GAAA – Grupo de Apoio à Adopção de Angola, e uma das principais defensoras do direito de todas as crianças a uma família.
Temos fé e a certeza de que a cirurgia será um sucesso!
Muito, muito obrigada!
Assim, o GAAA reafirma o seu compromisso com a defesa dos direitos da infância, e renova o apelo à sociedade civil, às instituições e ao Estado, no sentido de que a adopção se afirme, cada vez mais, como um caminho sólido, digno e afectivo de construção de famílias.
Dra. Iracelma Medeiros Filipe
Advogada, Presidente do GAAA
Jadete Calixto
Psicóloga, Coordenadora do GAAA
Angola, 30 de Junho de 2025
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